- Conspira Café
- Posts
- Portais, Ciência e Ficção: O Fascínio por Realidades Paralelas
Portais, Ciência e Ficção: O Fascínio por Realidades Paralelas
Dark, Stranger Things e o CERN: a ficção reflete nossos medos e desejos por outros mundos.

Imagem gerada por IA.
Imagine máquinas colossais escondidas no subterrâneo, rasgando os limites da realidade com feixes de partículas a velocidades inimagináveis. Agora imagine luzes dançantes no céu, tão etéreas e hipnóticas que civilizações inteiras acreditaram estar diante de portais celestiais. Entre essas duas imagens — uma ancorada na mais pura ciência e a outra nas visões místicas do passado — há uma linha tênue, um véu que separa o visível do invisível. E é justamente ali, no limiar entre o concreto e o simbólico, que mora o fascínio humano por portais, dimensões ocultas e os mistérios do universo.
🔬 CERN: Ciência ou Ritual Cósmico?
No epicentro desse imaginário moderno está o CERN — o maior laboratório de física de partículas do mundo. Localizado na fronteira entre a Suíça e a França, ele abriga o LHC (Grande Colisor de Hádrons), uma obra-prima da engenharia destinada a desvendar os menores componentes da matéria.
Mas à medida que os avanços científicos do CERN se tornavam manchetes, também floresciam teorias paralelas. Em 2016, um vídeo viral mostrou o que parecia ser um ritual oculto diante da estátua de Shiva, o deus hindu da destruição e regeneração, presente nos jardins do laboratório. Oficialmente, o CERN esclareceu que se tratava de uma encenação entre funcionários — uma “brincadeira de mau gosto”. Mas como em toda boa história conspiratória, a explicação racional pouco fez para conter o tsunami de interpretações místicas e alarmistas.
Para alguns, o CERN não está apenas colidindo partículas — está abrindo buracos de minhoca, despertando entidades interdimensionais, ou até rasgando a própria malha do espaço-tempo. Mesmo sem evidências concretas, a ideia encontra terreno fértil em tempos onde a ciência e o misticismo frequentemente se entrelaçam nas redes sociais, nos fóruns e, claro, na cultura pop.
🌀 O Mito dos Portais: Entre a Física e a Ficção
A ideia de portais interdimensionais é uma das mais fascinantes da física teórica. Teorias como a das cordas sugerem que o universo possui mais do que as quatro dimensões que experimentamos — altura, largura, profundidade e tempo. Algumas versões da teoria propõem até 11 dimensões! O multiverso, por sua vez, imagina realidades paralelas coexistindo com a nossa, separadas por membranas energéticas quase imperceptíveis.
Esses conceitos, ainda que especulativos, inflamam a imaginação. Não é por acaso que séries como Stranger Things e Dark exploram essas ideias com maestria. Em Stranger Things, o “Mundo Invertido” surge de um experimento científico que, sem querer, rasga a realidade. Já Dark mergulha em paradoxos temporais e realidades entrelaçadas, com base em teorias quânticas que — embora ficcionais — ressoam com debates reais na comunidade científica.
A ficção não apenas reflete nossas perguntas mais profundas; ela também ajuda a moldá-las. Afinal, quando olhamos para o LHC ou para o Sirius — acelerador brasileiro de última geração — não estamos apenas pensando em átomos, estamos imaginando portais. Um fascínio que beira o espiritual.
🌌 O Céu como Espelho do Desconhecido
Antes mesmo dos laboratórios subterrâneos, era o céu que encarnava o mistério. A aurora boreal, com seus arcos luminosos que serpenteiam o ártico, era interpretada por diversos povos como sinais dos deuses, espíritos ancestrais ou portais para outras esferas. Mesmo com a explicação moderna — partículas solares interagindo com o campo magnético da Terra — o espetáculo ainda carrega um magnetismo quase sobrenatural.
Como mostra um artigo da Euronews, o fascínio contemporâneo pela aurora continua. Fotógrafos, caçadores de auroras e turistas espirituais seguem até os confins do mundo buscando um vislumbre desse “véu entre mundos”. É como se, por um breve momento, o céu nos lembrasse de que ainda não compreendemos tudo — e talvez nem devamos.
🇧🇷 Sirius: O Brasil e os Limiares da Realidade
O Brasil também está começando a escrever seu capítulo nesse livro do invisível. O Sirius, o acelerador de elétrons instalado em Campinas, é uma das estruturas científicas mais avançadas do planeta. Desenvolvido para investigar a estrutura de materiais em escala atômica, ele tem aplicações reais na medicina, agricultura e indústria.
Mas como aconteceu com o CERN, o simples fato de manipular forças tão sutis e energias extremas despertou curiosidade — e também desconfiança. Em fóruns conspiratórios, o Sirius já é tratado como “o portal sul-americano”, reforçando a ideia de que a ciência de fronteira caminha lado a lado com o mito.
Seja por medo, admiração ou ambos, o Brasil — antes espectador dessas narrativas — agora participa ativamente da construção de um novo imaginário global sobre os limites da realidade.
🧠 Por Que Somos Tão Atraídos por Isso?
A resposta pode estar em algo profundamente humano: o desejo de transcender. Portais são metáforas daquilo que ainda não alcançamos — física, emocional ou espiritualmente. Eles representam passagens para o desconhecido, para o outro, para o que pode ser melhor ou pior, mas definitivamente diferente.
Na psicologia, o fascínio por portais pode ser entendido como um reflexo do nosso desejo por transformação. Cruzar um portal — seja na ficção ou na ciência — implica mudança, aprendizado, ruptura. E num mundo cada vez mais saturado de informação, encontrar algo genuinamente desconhecido é quase um alívio.
👁️ A Ciência como Narrativa Mística
Num artigo recente da Nature, cientistas discutem como a linguagem da física moderna muitas vezes se aproxima do esotérico. Termos como “energia escura”, “matéria invisível” e “universo inflacionário” são, para o público leigo, quase indistinguíveis de conceitos metafísicos. Isso não significa que sejam menos reais, mas sim que o abismo entre ciência e entendimento comum ainda é profundo — e, às vezes, assombroso.
Nesse vácuo, surgem as conspirações. Como explicou a BBC, quando as instituições não conseguem traduzir sua complexidade em linguagem acessível, o imaginário popular preenche o vazio com histórias. Algumas absurdas, outras poéticas. Todas, de alguma forma, humanas.
...
Dos corredores frios do CERN às paisagens gélidas das auroras boreais, dos túneis brasileiros do Sirius às camadas especulativas das dimensões extras, uma coisa é clara: estamos procurando. Procurando entender o universo e a nós mesmos. Cada avanço científico é uma janela. Cada ritual simbólico, um espelho. E entre janelas e espelhos, vamos construindo os portais que tanto desejamos.
Portais existem? Cientificamente, ainda não. Mas o desejo por eles, esse sim é real — e diz muito sobre quem somos. Buscamos o invisível não apenas com telescópios e colisores, mas com histórias, arte, medo e esperança. Porque talvez, no fundo, não estejamos apenas tentando atravessar para outro mundo. Talvez estejamos tentando entender o nosso.
Reply