Como a Rússia Usou o Brasil para Espionar o Mundo

Descubra como agentes russos forjaram identidades brasileiras e transformaram o país em um centro estratégico de espionagem global — com ligações surpreendentes ao cinema, à história e à ficção.

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Imagem gerada por IA.

Enquanto o mundo se distrai com guerras declaradas, crises políticas e revoluções tecnológicas, um teatro invisível se desenrola longe dos holofotes. O palco? O Brasil. Recentes revelações do jornal The New York Times e investigações conduzidas pela Polícia Federal brasileira expuseram um esquema intricado de espionagem: o país foi utilizado por décadas como uma verdadeira "fábrica de espiões" pela inteligência russa.

Mas essa história vai além dos noticiários. Ela se entrelaça com personagens e narrativas que moldaram a imagem do espião moderno — figuras como Richard Sorge, o lendário agente soviético que alterou os rumos da Segunda Guerra Mundial; Anna, a sedutora assassina da KGB nos cinemas; e os fictícios, porém incrivelmente humanos, Philip e Elizabeth Jennings, da série The Americans. Juntos, esses personagens — reais e imaginários — ajudam a compreender o funcionamento dessa engrenagem silenciosa e precisa da espionagem global.

Sergey Cherkasov, suspeito de espionagem russa, usava a identidade falsa de Victor Muller Ferreira ao tentar um estágio no Tribunal Penal Internacional. (Foto: Departamento de Justiça dos Estados Unidos)

O Infiltrado que Desencadeou Tudo

A engrenagem secreta que por anos girou nas sombras começou a ranger quando o agente Sergey Cherkasov foi capturado. Atuando sob o nome brasileiro de Victor Muller Ferreira, Cherkasov tinha como objetivo se infiltrar no Tribunal Penal Internacional, na Holanda. Mas não foi apenas sua intenção que chamou a atenção das autoridades: foi o realismo quase perfeito da identidade forjada. Documentos autêuticos, fluência em português, uma narrativa de vida coerente — tudo indicava que Victor era apenas mais um brasileiro comum. No entanto, por trás da fachada, escondia-se um membro da GRU, o serviço de inteligência militar russo.

Imagem de 2012 mostra Sergey Cherkasov, investigado por espionagem e preso desde 2022. (Foto: Poder 360)

Sua prisão não apenas revelou a existência de um agente altamente treinado, mas desencadeou uma investigação internacional sem precedentes. A "Operação Leste", liderada pela Polícia Federal brasileira, tornou-se o ponto de partida para a descoberta de uma teia global de espionagem, na qual o Brasil desempenhava um papel central. O caso Cherkasov foi apenas a ponta do iceberg de um subterrâneo bem mais profundo.

A Rota Brasileira da Espionagem

O que se descobriu a partir de Cherkasov foi estarrecedor. Pelo menos nove agentes russos utilizaram identidades brasileiras falsas para se infiltrar em organizações internacionais. O Brasil, com sua vasta malha burocrática e diversidade étnica, tornou-se um campo ideal para a criação de perfis impossíveis de serem detectados — os chamados "ilegais". Esses agentes, sem qualquer proteção diplomática, operavam com total autonomia, fundindo-se à sociedade como fantasmas.

Reportagem do The New York Times revela nove espiões russos com identidades falsas no Brasil.(Foto: Reprodução/TV Globo)

Um dos casos mais emblemáticos foi o de Artem Shmyrev, que adotou a identidade de Gerhard Daniel Campos Wittich e viveu no Rio de Janeiro. Sua fachada? Uma empresa de impressão 3D, uma vida social ativa e uma relação de vizinhança absolutamente normal. Mas sua verdadeira função era usar essa identidade brasileira como passe livre para circular em países estrangeiros e se infiltrar em instituições críticas, ampliando o alcance das operações russas.

Esse modus operandi ecoa as táticas de espionagem da Guerra Fria, como representadas por figuras como Richard Sorge, personagens de cinema como Anna e os dilemas morais de The Americans. A espionagem, ao que tudo indica, jamais saiu de cena — ela apenas aprendeu a usar novos palcos.

Richard Sorge, o espião soviético que mudou os rumos da Segunda Guerra e foi decisivo na derrota dos nazistas. (Foto: Reprodução/LaNacion)

Richard Sorge, o Protomodelo do Espião Perfeito

Para compreender a sofisticação dessas operações, é preciso olhar para o passado. Richard Sorge, espião soviético de origem alemã, é um dos nomes mais emblemáticos da história da inteligência. Durante a Segunda Guerra Mundial, infiltrou-se na embaixada alemã em Tóquio sob a fachada de jornalista. Sorge foi o responsável por avisar Moscou da data da Operação Barbarossa e por garantir aos soviéticos que o Japão não atacaria a URSS, permitindo uma transferência vital de tropas.

Sua vida, repleta de traições, romances com esposas de oficiais inimigos e informações decisivas, influenciou diversas obras, incluindo HQs e estudos acadêmicos. Sorge encarna o espião perfeito: invisível, sedutor, letal.

Anna e a Beleza Letal da Espionagem Moderna

O cinema também ajudou a moldar o imaginário popular sobre espiões russos. Em Anna – O Perigo Tem Nome, dirigido por Luc Besson, a protagonista é uma modelo russa que, por trás da aparência glamourosa, atua como assassina da KGB. Vivida por Sasha Luss, Anna enfrenta não apenas inimigos armados, mas também a CIA, em um jogo mortal de identidades, traições e liberdade.

A trama ecoa as estratégias vistas na "fábrica de espiões" do Brasil: mulheres e homens treinados para manipular, enganar e seduzir em nome do Estado. A beleza, neste jogo, é apenas mais uma arma.

The Americans e a Vida Dupla como Norma

A série The Americans talvez seja a representação mais fiel do que significa viver como um "ilegal". Elizabeth e Philip Jennings são agentes da KGB disfarçados de um casal americano comum nos anos 1980. Entre missões secretas e churrascos no subúrbio, enfrentam dilemas de identidade, moral e paternidade.

Criada por um ex-agente da CIA, a série mostra como a vida de um espião não é feita apenas de explosões e perseguições, mas de silêncios, disfarces e escolhas impossíveis. Assim como os agentes russos no Brasil, os personagens da série estão sempre à beira da descoberta — e da ruína.

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A exposição da "fábrica de espiões" brasileira revela que, mesmo em um mundo hiperconectado, a espionagem clássica segue viva e adaptada. Os rostos mudam, os métodos evoluem, mas o jogo permanece o mesmo: informação é poder.

Assim como Richard Sorge mudou o rumo da Segunda Guerra Mundial, e como Elizabeth e Philip Jennings vivem sob o peso de mentiras em The Americans, os agentes russos no Brasil provam que a fronteira entre a realidade e a ficção pode ser tão sutil quanto um documento falsificado.

Em tempos de desinformações, deepfakes e identidades liquefeitas nas redes sociais, a pergunta que fica é: quem somos, de fato? E quem está observando, por trás da próxima identidade forjada?

A fábrica continua funcionando — silenciosa, adaptável, invisível. Como num bom filme de espionagem, a verdade nunca é o que parece. E talvez, ao fim, o maior truque da espionagem seja este: convencer o mundo de que ela já não existe.

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