• Conspira Café
  • Posts
  • A procura por alívio em momentos de desconexão em 2025

A procura por alívio em momentos de desconexão em 2025

Festas populares usadas como escapes das pressões do cotidiano

Imagem gerada por IA

Fuga da Realidade

Uma viagem para conhecer a neve, uma maratona de bloquinhos no Carnaval, o refúgio em um sítio isolado ou o simples conforto do lar — o Carnaval representa, para muitos, um desejo compartilhado: escapar da realidade. É intrigante observar como, em tempos de pressões cada vez maiores — seja no trabalho, nas relações pessoais, na comunidade ou até no convívio entre amigos —, permanece a sensação de que algo está sempre faltando, como se o "perfeito" fosse inalcançável. Essa linha tênue entre a realidade e a ilusão reflete uma característica essencial da humanidade: a busca por alívio em momentos de desconexão.

Essa necessidade não é um fenômeno moderno. Na Antiguidade, celebrações como as Saturnálias romanas promoviam a suspensão temporária das normas sociais e a liberdade dos excessos. Realizadas entre 17 e 23 de dezembro e dedicadas ao deus Saturno, essas festas eram marcadas pela inversão de papéis — escravos e senhores trocavam de posição —, pela permissão de jogos de azar e pelos grandes banquetes públicos e privados. Essas festividades evocavam a mítica "Era Dourada" de Saturno, um tempo de igualdade e abundância, e influenciaram tradições modernas como o Natal.

Foto: Prefeitura de São Paulo/Divulgação

O Carnaval, herdeiro dessas tradições, não é único nesse papel de escapismo. Pelo mundo, há inúmeras celebrações que compartilham esse espírito libertador:

O Carnaval no Brasil e outros festivais no mundo

No Brasil, o Carnaval é a manifestação máxima do escapismo coletivo. Músicas vibrantes, danças energéticas e fantasias criativas transformam o país em um palco dionisíaco, onde as normas e pressões cedem espaço à celebração. Outras culturas têm eventos semelhantes:

  • Mardi Gras, nos Estados Unidos, que celebra os excessos antes da Quaresma.

  • Carnaval de Veneza, conhecido por suas máscaras, símbolo de anonimato e igualdade social temporária.

Essas festividades criam mundos paralelos, onde as regras da vida cotidiana são momentaneamente suspensas.

Holi na Índia: Libertação em cores

Na Índia, o Holi, celebrado na primavera, simboliza a vitória do bem sobre o mal. Durante o festival, pós coloridos são lançados no ar, unindo as pessoas em uma explosão de alegria e promovendo um alívio simbólico das divisões sociais e preocupações diárias.

Festivais espirituais no Japão

No Japão, os Matsuri, festivais religiosos, combinam renovação espiritual com elementos de escapismo. O Gion Matsuri, em Kyoto, mescla o sagrado com o profano, criando momentos de conexão coletiva e pausa na rotina.

Burning Man: Transformação no deserto

No deserto de Nevada, o Burning Man oferece um exemplo moderno de escapismo. Incentivando a expressão radical e a desconstrução das normas sociais, o evento cria uma utopia efêmera que promove a desconexão do real e inspira transformações pessoais.

Segundo Nietzsche

Friedrich Nietzsche, um dos filósofos mais influentes do século XIX, concebeu a fuga da realidade como uma complexa dança entre duas forças fundamentais: o apolíneo e o dionisíaco. O apolíneo representa a ordem, a razão, a lógica e a estrutura, enquanto o dionisíaco simboliza o caos, a emoção, a paixão e a desordem. Para Nietzsche, a vida humana é uma constante oscilação entre essas duas forças, e é nesse equilíbrio dinâmico que encontramos a verdadeira essência da existência.

Eventos culturais e sociais, como o Carnaval, são vistos por Nietzsche como importantes expressões do espírito dionisíaco. Durante o Carnaval, as regras sociais são temporariamente deixadas de lado, permitindo que as pessoas vivam momentos de alegria, liberdade e expressão sem limites. É um período em que a rotina diária é alterada, e a criatividade pode surgir, permitindo que as pessoas liberem suas energias reprimidas e celebrem a vida de maneira pura e instintiva. Nietzsche acredita que essas manifestações ajudam as pessoas a superar as limitações da razão, permitindo que se reconectem com aspectos mais profundos da existência.

O que diz o Pai da psicanálise?

Na visão de Sigmund Freud, o renomado pai da psicanálise, a mente humana é comparável a um palco teatral onde três personagens principais desempenham papéis cruciais e interagem de maneira complexa: o id, o ego e o superego. O id representa os impulsos primitivos e os desejos instintivos, buscando gratificação imediata e prazer sem considerar as consequências. O ego, por sua vez, atua como um mediador realista, tentando equilibrar os impulsos do id com as demandas do mundo externo, enquanto o superego incorpora as normas morais e éticas internalizadas, funcionando como uma espécie de consciência crítica.

Em meio a festas, celebrações e momentos de alegria coletiva, a cortina da realidade cotidiana se levanta temporariamente, permitindo que os desejos do id dancem livremente no palco da mente. Durante esses eventos, o ego, que normalmente exerce um controle rigoroso sobre os impulsos, afrouxa suas rédeas, permitindo uma expressão mais livre e espontânea dos desejos. Simultaneamente, o superego, que geralmente impõe rígidas normas e julgamentos morais, também tende a suavizar sua vigilância, criando um espaço onde as inibições são reduzidas e a criatividade pode florescer. Esse ambiente temporário de liberdade psíquica permite que as pessoas explorem aspectos de si mesmas que, no dia a dia, podem ser reprimidos ou ignorados, promovendo uma sensação de renovação e autodescoberta.

Um convite tentador aparece, oferecendo uma chance de escapar do estresse do dia a dia. Festas como o Carnaval e o Mardigras são momentos em que as regras somem e a criatividade brilha. Com música, cores e expressões ousadas, esses eventos criam um mundo onde a liberdade e a alegria são importantes.

Nietzsche achava que essas festas eram uma forma de viver intensamente, enquanto Freud as via como uma chance de aliviar o estresse. Ambos acreditavam que essas escapadas, quando feitas com equilíbrio, nos ajudam a nos reconectar com quem realmente somos. No meio dessas festas, lembramos que, às vezes, é no caos das celebrações que redescobrimos nossa humanidade. Fugir da realidade pode ser a melhor maneira de vivê-la completamente.